Wasteland

Lançado em 1988, Wasteland é referência para uma geração inteira de jogos.

Não lembro bem o motivo, mas o Wasteland original ficou de graça durante algum tempo no Steam, lá por 2014. Acho que foi por causa da campanha de Kickstarter do Wasteland 2. Só o joguei este ano. Eu sempre quis ver como era o tal do "precursor" da série Fallout, mas nunca engatava uma jogatina contínua. Sempre parava depois de 15 ou 30 minutos. Finalmente retifiquei isso.

Em primeiro lugar, o jogo não é realmente a versão "original, original", mas sim uma versão com alguns extras. Como esta é a versão de MS-DOS, ela veio emulada pelo DOSBOX. Mesmo assim, não é apenas a versão original "crua". Os extras do jogo são um filtro de suavização de bordas, trilha sonora refeita no formato .ogg, retratos em alta resolução e parágrafos falados. O filtro é apenas preferência estética, mas saiba que os retratos em alta resolução não são animados. Os retratos originais são. Você vê isso logo no início, onde no retrato do Ranger Center, a antena no topo girava no original. Você pode ver tantos os originais quanto os atualizados na pasta de extras, então isso é mais questão de preferência. Eu deixei os retratos originais e desliguei a suavização. Não me incomodo com pixels.

Começando o jogo, vi logo que ele não te explica absolutamente nada. Wasteland é de uma época onde você precisava ler o manual antes de começar o jogo. Em um jogo de plataforma da época isso não é necessário, afinal você só corre e pula. Mas em Wasteland, isso é absolutamente essencial. Na versão Steam, o manual fica na pasta "Extras". Recomendo a leitura do manual pelo menos uma vez, mesmo que você não vá jogar. É uma leitura bem interessante. Você começa com um grupo de 4 Desert Rangers, cada um com 8 estatísticas: Força, QI, Sorte, Velocidade, Agilidade, Destreza, Carisma e Constituição. QI é o mesmo que Inteligência, e Constituição são os pontos de vida do personagem. Cada Ranger também tem um sexo e uma nacionalidade (americano, russo, mexicano, indiano, chinês). A nacionalidade não importa em local algum do jogo, é apenas para imersão. O sexo só muda uns poucos diálogos. O "retrato" do seu personagem também não muda, é um retrato genérico de soldado com roupa verde, capacete e óculos, mesmo para mulheres. Por fim, você também tem as habilidades (skills). Os 4 personagens iniciais já começam com habilidades pré-selecionadas, mas você pode simplesmente apagá-los e criar outros. Eu recomendo que apague estes personagens iniciais e role personagens com habilidades melhores. Algumas habilidades iniciais são bem inúteis, mas nada que vá te atrapalhar demais - você não está totalmente preso a elas. Tente colocar Medic em pelo menos duas pessoas, para não ficar dependendo apenas de um personagem. Ao sair do Ranger Center, você nota que o mapa é simples, muito simples mesmo. O seu grupo é indicado por um boneco verde parado, enquanto as cidades são indicadas por casinhas. É um Ultima 4 mais simples (no U4 o seu "boneco" se mexia). Logo ao sair do centro, você vê alguns locais à oeste. Ao parar no primeiro, Highpool, você vê que é uma espécie de colônia de férias para adolescentes. Existem vários dormitórios, mas você só pode entrar em alguns. Tem uma loja, uma casa vazia e um médico. E aí começa o seu jogo. A sua primeira missão é consertar a bomba d'água da colônia. Parece familiar? É a mesma missão do Fallout 1, embora um pouquinho diferente: aqui no Wasteland você tem que reparar a bomba do purificador de água, enquanto no Fallout 1 você tem que encontrar um chip para o purificador de água da sua Vault.

Quanto ao sistema de batalhas, a primeira coisa que eu percebi é que não há nenhum item de cura. Você se cura automaticamente ao usar uma ação chamada Esperar (ESC no teclado). Cada vez que aperta ESC, se passa um minuto. Pode parecer estranho para quem começou a jogar RPGs com Final Fantasy, mas isso era bem comum na época. E realmente, não existe nenhum item de cura no jogo. Ou você espera, ou vai em um médico, e paga para ele te curar. Quanto aos equipamentos, você pode ter uma arma e uma vestimenta equipadas. E só. Todos os Rangers começam com uma pistola e sem nenhuma veste extra equipada. A tela da equipe mostra quantas balas (AMM) e quanta defesa (AC, Armor Class) você tem. Aliás, vale aqui um comentário: nesses RPGs antigos, a Armor Class é uma espécie de barreira quase intransponível. Quer dizer, se a sua veste tem AC 2, qualquer ataque que só cause até isso de dano vai simplesmente ser ignorado. Se o dano passar isso, a veste segura pelo menos um pouco. Então, você pode ter que voltar a uma das cidades no começo, e vai notar que os inimigos não te causam dano algum, pois a sua vestimenta absorve o dano completo. Quanto às armas, existem vários tipos e modelos, mas geralmente se dividem em 4: armas brancas, armas de fogo, armas de energia e explosivos. Ainda existem subtipos, mas esses são os principais. As armas de fogo automáticas possuem 3 modos de tiro: Um tiro, Rajada (3 tiros) e Auto, que gasta todo o pente da arma de uma vez só. A diferença principal é que Auto ataca todos os grupos de inimigos.

Ao entrar na batalha, você vê várias opções diferentes, que podem ser selecionadas tanto com o mouse quanto com a primeira letra da palavra. As opções são Run (Correr), Use (Usar), Hire (Contratar), Evade (Evadir), Attack (Atacar), Weapon (Trocar de arma) e Load/Unjam (Recarregar/Destravar). Dessas opções, vale a pena falar sobre Hire e Load/Unjam. Você pode usar Hire para contratar alguns NPCs (non-playable characters) que encontra pelo mundo. Pode parecer estranho dessa opção estar no meio do menu de batalha, mas é porque você pode iniciar um round de batalha mesmo sem inimigos por perto. Basta acessar a opção ENC (Encounter) lá embaixo da tela. Os personagens que você pode contratar, exceto um, já aparecem no mapa com um sprite igual ao de um inimigo (camisa azul, calça roxa). Então, você não fala com eles apertando algum botão, e sim iniciando um round de batalha. Pode parecer muito estranho, mas é o que havia na época. Então cuidado para não acabar atacando os NPCs por engano (você pode, se quiser). Já a opção Load/Unjam serve para recarregar a sua arma mesmo fora da batalha. Isso é bom para que você não precise perder turnos recarregando enquanto o inimigo está atirando em você. Já Unjam serve para destravar a arma caso ela fique travada. Isso pode acontecer com qualquer arma de fogo, mas geralmente ocorre por imperícia do personagem. O jogo avisa quando a arma não possui munição ou está travada. Porém, note que você ainda pode atacar alguém sem balas. O personagem só vai bater no oponente com a arma. Já no caso da arma estar travada, você não pode fazer nada além de tentar destravá-la.

Uma outra coisa que pode parecer estranha é que todos os encontros se dividem em "grupos". Então você pode encontrar um grupo de 6 inimigos juntos, ou 3 grupos de 2 inimigos cada. O que isso muda é que você só ataca um grupo de cada vez, a não ser que use a opção Auto. A opção Run também pode parecer fora do lugar ali no topo da lista, mas ela é muito importante: você pode fugir de um quadrado para o outro do mapa, e dependendo do inimigo, ele vai atrás de você ou não. E o contrário também vale: o inimigo pode querer fugir de você, e você é que tem que ir atrás dele. Isso também é importante para caso você esteja usando armas com alcances diferentes: armas brancas só alcançam bem de perto, por isso você tem que chegar nos quadrados adjacentes ao inimigo para atacá-lo, enquanto com outras armas, você pode atirar de longe. Por último, já que não há item para curar, os personagens que são derrubados em batalha podem ficar em vários estados, cada estado sendo um pouco pior do que o outro: Inconsciente -> Sério -> Crítico -> Mortal -> Coma -> Morto. Os personagens inconscientes ainda podem se recuperar automaticamente, mas a partir de Sério, isso se torna impossível. Ou você cura o personagem com alguma habilidade, ou leva ele num médico. O estado do personagem vai piorando (a partir de Sério), então cuidado com isso. Uma crítica aqui é que isso pode te levar a situações impassáveis: explico. Para levar Game Over, todos os personagens do seu grupo têm que estar em Sério ou pior. Mesmo que todos estejam em Inconsciente, o que acontece é que um personagem se recupera, o encontro acaba e então recomeça imediatamente. Como os personagens podem se recuperar de Inconsciente mesmo durante a batalha, isso cria situações onde os inimigos ficam te derrubando todo turno, e você não consegue nem fugir, e nem atacá-los de volta. O jeito é ou fechar o jogo ou esperar todo mundo ser derrotado. Uma coisa interessante no Game Over, é que o jogo fecha automaticamente quando o Game Over acontece.

Das opções da tela principal, uma bem interessante é o Rádio. Ao acessá-lo, o seu superior vai avaliar seus pontos de experiência e te promover, dependendo de quantos pontos tenha. É um sistema de nível bem disfarçado. A cada promoção, você ganha 2 pontos para distribuir entre as suas estatísticas, além de 2 pontos automáticos em MAXCON. Se você colocar 1 ou 2 pontos em QI, você ganha esses pontos para serem usados em habilidades. Para tanto, você deve achar uma biblioteca. A estatística "SKP" mostra quantos pontos você tem. Então é interessante que você coloque alguns pontos em QI, ou nunca vai aprender habilidades novas.

É incrível o número de referências a Wasteland que Fallout possui. Pudera, o primeiro Fallout deveria ser um jogo da série Wasteland, mas por algum motivo não foi para frente. Mesmo assim, é inegável que muita coisa foi baseada em Wasteland. Os criadores de Fallout eram fãs de Wasteland. Pontuando:

Na pasta de extras, você tem algumas pastas e arquivos em PDF. Há os retratos originais e atualizados, Wallpapers do Wasteland 2, a trilha sonora do jogo, e também 5 arquivos em PDF, incluindo o manual, um livro de dicas e o livro de parágrafos. Aqui, uma explicação: jogos antigos usavam disquetes, e cada KB de espaço era necessário. Por isso, os jogos vinham com "livros de parágrafos" que contavam partes da história sem usar o espaço dos disquetes. Por exemplo, ao chegar em um cassino, vai aparecer na tela "leia o parágrafo 59". Isso também servia para combater a pirataria, pois se você não tivesse esse livro, não conseguiria prosseguir. Na versão de MS-DOS, há uma facilidade: você pode clicar na palavra "parágrafo" quando ela aparecer, e vai aparecer uma nova janela, e uma voz vai ler o parágrafo para você. Assim você não precisa ter o livro de parágrafos do seu lado, mesmo que em PDF.

Se você está interessado no Wasteland 2 e quer saber se precisa jogar o Wasteland 1 antes, a minha recomendação é "NÃO". Embora os eventos sejam uma continuação direta, você só precisa saber que todos os personagens que você encontra pelo caminho foram recrutados para os Desert Rangers, e que eles destruíram a Base Cochise no final. E só. Mas peraí: eles recrutaram todo mundo? Sim. Até aquela menina que estava perdida na caverna, ou aquele mendigo que estava dentro de uma casa. Todos eles viraram Desert Rangers. Você vai encontrar a Angela Deth, o Thrasher e o Snake Vargas durante o Wasteland 2, mais velhos. O Hell Razor e os outros não aparecem, são apenas citados. Segundo o "cânone" do Wasteland 2, quem foi para a Base Cochise no final foram os 4 iniciais (Hell Razor, Angela Deth, Thrasher e Snake Vargas) e o Ace, que era o cara que consertava o jipe. A Angela é uma personagem jogável durante boa parte de Wasteland 2. É uma forma interessante de canonizá-los.

O jogo é bem difícil, e nunca vai segurá-lo pela mão. É aquele tipo de jogo onde você tem que anotar tudo, pois mesmo o livro de dicas não ajuda muito. Para você ter uma idéia, no final você tem que escapar da base antes dela explodir. Se você não pensar bem em como escapar, vai tentar fazer tudo o mais rápido possível e acabar morrendo. Mas não se preocupe, mesmo que todo mundo morra no final, o final é quase o mesmo - a base ainda é destruída e você salva o dia.

Uma última coisa, é que caso você consiga escapar com pelo menos um personagem no final, você pode continuar jogando com ele. Uma espécie de New Game+. Se você usar o Rádio, vai ganhar 10 pontos de habilidades e 10 pontos de MAXCON.

Publicado em 04/02/2019.